sábado, 16 de fevereiro de 2013

Fechei o portão da minha casa e dei um beijo nos meus três gatos. Cada beijo teve um sabor diferente, mas eu sabia claramente que estava me despedindo de um deles por um tempo maior que dos outros. Fechei o portão e fui pra estrada. Cai no mesmo lugar que há 13 anos eu visito, onde eu sempre sou feliz, onde eu sempre sou atravessada por intensidades encantadoras e de onde eu sempre trago uma marca que fica tatuada no meu corpo mais que as outras. Essa viagem que fiz parece uma daquelas histórias divisoras de águas na vida de alguém, histórias que nos cruzam de forma tão caótica e inesperada que acabam por gerar uma necessidade inevitável de mudança de caminho. Depois de misturar em um pouco mais de 40 dias 6 letras de estados, de  estrada, de pessoas, de poemas, de possibilidades, de vontade e sobretudo de coragem para enxergar tudo isso, meu corpo ficou mole, amoleceu de alegria, desacelerou e agora me diz pra ficar quieta e voltar pra casa. Voltar para arrumá-la de novo, para por novamente as coisas nas caixas e dar outros beijos de saudade e despedida. Esse tempo todo que fiquei fora de casa, fora dessa menina enraizada em algumas ideias e valores, que são importantes é claro, mas que às vezes enraízam tanto que me impedem de ver o mundo com certa instabilidade e não temer isso, esse tempo todo me ajudou a escrever muito. Escrevi poemas internos por cada rua, cada bar, cada casa por onde passei, junto de cada olhar de quem me olhou e me viu, e de quem me olhou e não me viu. Um montão de poemas boêmios, cheios de álcool, de amor, de coragem, de desprendimento, de risadas, muitas risadas. Dancei tanto, tanto, que acho que descobri nesses caminhos a minha "tarab" árabe, descobri um pedacinho do tipo de força em que devo acreditar quando danço meu ventre. Dancei sem vergonha e com uma vontade sem vergonha de gritar "eu existo" e de me jogar na primeira estrada que me convidasse. Tive e não tive medo. Estou e não estou com medo. Quero e quero muito. Foram nessas estradas que comecei a minha despedida do "céu de uma cidade do interior".


"Vamos, nina"